S.O.S – Como se salvar da infodemia?

Save Our Souls (SOS) [Updated 2019] - Infosec Resources

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No dia 8 de junho (2021) assisti, pelo Youtube, uma Live sobre Cultura digital1. O programa é semanal e se chama Pedro + Cora (com o símbolo matemático mesmo). Neste dia, uma terça-feira, ele foi todo pautado em dados fornecidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico , o OCDE2, que afirma que:

67% dos estudantes de 15 anos do Brasil não sabem diferenciar fatos de opiniões

O índice está acima da média registrada em estudantes de outros 79 países analisados pela organização, que é de 53%

Na pauta do programa estavam questões importantes como as verdades (ou mitos) sobre os nativos digitais e o perigo das fake news em tempos de pandemia. Mas um dado, em especial da OCDE chamou minha atenção – certamente porque também tem sido meu foco de trabalho há alguns anos:

O enorme fluxo de informações que caracteriza a era digital exige que os leitores sejam capazes de distinguir entre fato e opinião. Os leitores devem aprender estratégias para detectar informações tendenciosas e conteúdo malicioso, como notícias falsas e e-mails de phishing. A “infodemia” na qual eventos como a pandemia de Covid-19 nos envolveram torna mais difícil discernir a precisão das informações quando o tempo de reação é crucial.

Essa questão não deve ser novidade para você, como não foi para mim: desde quando, há cerca de quatro anos, eu comecei a trocar mensagens com uma professora universitária de Belo Horizonte, e ela me falava da dificuldade que seus alunos de graduação estavam tendo para compreender e interpretar fatos, conceitos e informações; comecei a pensar mais sobre o quanto este problema também escorregava pelos dedos de quem , como eu, sempre trabalhou na Educação básica.

O fato é que o perigo sempre está à espreita; seja nos espaços que perpetuam a ideia dos conceitos ensinados por disciplinas – as escolas – ou naqueles que priorizam a informação instantânea, ligeira e volumosa – as redes e mídias. Em todos os casos sempre ficam à margem os pensamentos complexos, as analogias, os raciocínios e, tantas vezes, a criatividade, pois que isso exige tempo para a maturação e para o diálogo; mentes disponíveis para dúvidas e erros.

De toda maneira, é importante dizer que o conhecimento pautado em Ciência liberta o indivíduo, sobretudo das informações falaciosas que ‘espertamente’, ocupam as redes sociais – onde é mais fácil atropelar mentes.

A gente sabe também que, como diz o ditado, ‘desgraça pouca é bobagem’. E que o pensamento generalizado neste mundo doente de tanta informação considera que, da outra ponta da linha desta comunicação, há sempre alguém pronto para ser fisgado, pessoas que não sabem (ou não querem saber) a diferença entre um fato e uma opinião. Ignoram a verdade e são capazes de alimentar a mentira… Não se importam em se iludir nos raciocínios. E é assim que, nos comentários de um texto ou postagem, perdem-se numa escrita sem pudor, comentando não mais o fato que foi posto discussão, mas o comentário anterior… Olha, é preciso uma boa dose de paciência com aqueles que argumentam o argumento alheio.

Não padecemos apenas de ‘infodemia’. Somos egocêntricos com a nossa felicidade, com a nossa ética frágil. Padecemos de discernimento. Da absoluta falta de tempo para o nosso pensamento – também de algum método para norteá-lo. Aristóteles já nos indicou o caminho. Basta voltar um tanto de anos nas páginas dos velhos livros. E ainda melhor será se formos pacientes, e nos dermos a oportunidade de conversar com a gente mesmo; numa dialética interna. Algo como fazer um exercício interior e nos perguntar: qual é a ética que embasa, fundamenta esse meu comentário? O que esta resposta está dizendo sobre mim? Estou negligenciando o fato e me revestindo de um orgulho bobo para comentar o comentário? Apenas rebatê-lo e me auto afirmar? Quem ou eu nesta história toda?

Como se vê, responder a um comentário nas redes sociais revela muito mais sobre nós do que imaginamos. Só que não há tempo para pensar nisso. Essas redes de informação atropelam as pessoas. Ali não há tempo para raciocinar. Afastar-se deste excesso poderia ser uma solução, mas acredito mesmo que precisamos todos ser treinados (nas academias e fora delas) para o jogo da persuasão. Como? Primeiro, sabendo que ela existe. E depois treinando a mente para ela, pois que o jogo já começou e fazemos parte dele.

De que maneira?

Sendo persuasivo e deixando-se persuadir de propósito. Não para enganar ou para se proteger; para tripudiar, manipular ou tirar vantagem. Muito menos para se alienar. Mas para rir com as descobertas internas, com a própria inteligência. E usar nossas habilidades persuasivas para o bem das pessoas.

Não resta dúvida, portanto, que não é a informação mentirosa, ‘plantada’, pervertida que aliena. É a nossa falta de prática com o pensar que atrapalha.

O que esta gente que ri pelas costas e produz fake news desconsidera, é que a persuasão pode ser aprendida, treinada, estimulada; fazer parte de um Kit de sobrevivência e salvar nossas vidas; contribuir para a nossa sanidade.

O que esta gente que insiste em argumentar e dar opinião sobre o comentário alheio – ou que se deixa enganar, toda feliz, pela mentira, pelo ranço das armadilhas mentais – é que é possível se salvar; e que não é preciso ser o peixe que se ilude com a minhoca que se contorce na flor da água…

(1) https://youtu.be/g-IiE5hn1sc

(2) 67% dos estudantes de 15 anos do Brasil não sabem diferenciar fatos de opiniões, afirma relatório da OCDE | Educação | G1 (globo.com)

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