Domingo de Páscoa, 20 de abril de 2025


Dou a mínima para o etarismo, mas sei que ele me impede de estar em alguns lugares. Mas “não sou fogo bobo”. E mais: “não preciso que me digam de que lado nasce o sol, porque bate lá o meu coração”. “Sou daquelas que ardem a vida com vontade”.

Este foi mais um domingo para lembrar.

Na semana anterior, tinha feito breve comentário em um post sobre etarismo no Instagram. O autor da publicação era ninguém menos que Roberto Duailib, 89 anos; escritor, publicitário premiado, diretor de cursos da atual ESPM, conselheiro da Fundação Bienal. Em vídeo, ele diz: “o velho ainda é desprezado. Eu não conheço nenhuma agência com um redator com 89 anos, nem com mais de 60 anos. Eu sei que em uma reunião, a presença de um velho incomoda os mais jovens, mas isso não seria um preconceito com os mais jovens, mas um aproveitamento da experiência dos mais velhos…”

Foi impossível não comentar. Eu disse:

O etarismo é uma discriminação etária e geracional. É qualquer tipo de preconceito baseado na idade cronológica que pode ser manifestada de diversas formas”; em situações do cotidiano e através da desvalorização da experiência dos mais velhos.

O etarismo chegou até mim – e há algum tempo. Aos 65 não discuto mais, apenas lamento. Sigo criando por aqui, escrevendo, reacendendo as fagulhas dentro de mim, aquelas a que um dia se referiu Galeano:

https://youtu.be/pBIIEgVSVMg?feature=shared

“Não sou fogo bobo”, conclui.

Está certo, então, mas ainda não falei deste domingo, 20 de abril:

Depois da resposta no post do Duailibi, me escreveu a Patrícia, 58, profissional do marketing, hoje fotógrafa, incomodada com o “fenômeno” do etarismo no Brasil e no mundo. Se disse impactada pelo meu comentário no post do Duailib, e que ela estava fazendo um projeto. Gostaria de me fotografar.

Aceitei, sem relutar. Não costumo recusar chamados potentes, felizmente. O passar dos anos me fez sabida nisso de reconhecer potências.

Conversamos, tomamos café, outro café, docinhos para celebrar o domingo de Páscoa. Uma foto aqui, outra foto ali, ainda no celular: ” os seguranças do shopping vão expulsar a gente quando eu começar a sacar as câmeras” – ela disse. Rimos disso. Então, sentou-se ao meu lado um casal. Olhei bem a quem estava à minha esquerda, quase coladinho, no mesmo banco. Sou péssima fisionomista, mas, antes de chegar ao seu nome, me chegou a voz. Contra-tenor. Ave Maria no morro… Sublime, pensei – e me desconcentrei. Tem isso. A emoção sempre me desconcentra. Chego a me perder nela, como criança. “Pego a luz inteirinha pra mim”.

Edson Cordeiro

Conclui comigo mesma: dou a mínima para o etarismo, mas sei que ele me impede de estar em alguns lugares. “Não sou fogo bobo”. E mais: “não preciso que me digam de que lado nasce o sol, porque bate lá o meu coração”. “Sou daquelas que ardem a vida com vontade”.

Obrigada, Patrícia.

Foto de Patrícia Marra

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