Uma solidão

‘Melancolie’, do artista romeno Alberto Gyorgy.

Sei que há muitos tipos de solidão – muitas das quais sou incapaz de falar. Não por me faltarem palavras – estas são outras. Mas porque ainda não arderam em mim.

Mas posso falar de uma solidão que conheci recentemente – e já confidencio: ela não vale nada.

Me refiro à solidão de pensar e sentir sozinha algo que todo mundo também pensa e sente. Mas não fala.

Chego a imaginar que é só hipocrisia, mas, acho que não. Não há dignidade alguma nessa nova solidão. Aliás, ela é uma solidão diferente daquela que nos ensinou o poeta. Em verdade, é quase um avesso daquilo que nos disse o poeta, pois, diferentemente dele, não temos uma causa ou alguém que precise desse nosso fingimento. Isso faz de nós o pior tipo de fingidores, aqueles que fingem para si mesmos.

A solidão da qual falo vem mais ou menos daí. Com uma grandessíssima diferença: não somos poetas, somos apenas fingidores fingindo não sentir algo que sentimos. E não há poesia nisso.

Somos fingidores completos nesta vida. A pretexto de viver, ludibriamos nossa mente, nosso corpo, nossa ética, alma e coração. Então, o que vale essa solidão?

Não somos poetas e, por isso, essa solidão não vale nada.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *