Foi só agora há pouco que analisei o meu dia e percebi que ele tinha sido mais tranquilo do que de costume: não precisei me locomover para muito longe de casa, não tive que me preocupar nem com o trabalho nem com o almoço; não tive hora marcada para nada. Terminei o dia pensando que talvez o dia tivesse sido pouco produtivo – ao menos para os padrões.
Foi então que resolvi rever minhas ações, relembrar o que fiz: acordei cedíssimo, fiz um café gostoso, comi um pedaço de pão com um restinho de manteiga que ainda tinha na geladeira, arrumei a casa (eterna bagunceira), providenciei o almoço, recebi uma pessoa que veio fotografar os cômodos do apartamento que está à venda, comprei um bolo de chocolate, abasteci o carro, comprei um gerânio, pedi uma pizza, tive aula de italiano, conversei por whatsapp com uma amiga, escrevi este texto e me pus a assistir a uma série na Netflix.
Não é pouco, eu sei; mas foi um dia tranquilo, como têm sido todas as sextas-feiras.
Certamente tranquilo, mas não banal:
O café quentinho logo pela manhã me encheu o coração de satisfação; a manteiga derretendo no pão aquecido, o rádio ligado nas notícias da manhã embalando as arrumações do dia. Um papel que vai para a pasta de onde não deveria ter saído, o chinelo e a meia que encontram seus pares, a jaqueta pendurada ao lado do casaco vermelho, a almofada laranja fazendo companhia para a florida de fundo marrom, os pincéis alinhados e limpos na mesa da varanda que há um mês foi montada como ateliê, os brinquedinhos do cachorro no cestinho lá fora…
A campainha que toca e traz o fotógrafo, a louça guardada às pressas para a foto perfeita, o almoço quentinho assistindo um programa qualquer na TV. O moço gentil do posto de gasolina, a mulher que me vende o gerânio que há tempos não vê um pingo d’água (parece que ela se apercebe do crime e, com medo do castigo, me aconselha umedecer a plantinha assim que chegar em casa). As palavras fazendo sentido em língua estrangeira antecedem a mensagem da amiga pelo whatsapp.
Resta chegar a hora de adormecer no meio do filme…
Um dia tranquilo, nada banal.