Então é Natal.
E como a memória é uma história trazida no presente, bem hoje, véspera de natal, eu poderia contar algumas histórias: como aquela da minha primeira bicicleta – amarela e de rodinhas; ou de quando eu eu me aperfeiçoei em colocar, de madrugada, os presentes embaixo da árvore.
Hoje, os meus natais nem de longe passam perto desses: não compro presentes, não monto árvores, não vou à igreja, não faço uma grande ceia. Mas há algo que preservei no meu natal: as luzes, muitas luzes… Sei lá, encontrei a minha forma de acenar para a vida e clarear os caminhos… É como se eu estivesse dando a minha resposta à vida: está preparada?
A pergunta é retórica – diariamente respondida, pois que fortes mesmos são os sinais, a vontade de saltar sempre para dentro da ponte da vida.
Sobre isso diz melhor o poeta João Cabral:
Severino retirante, deixe agora que lhe diga: eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida; nem conheço essa resposta, se quer mesmo que lhe diga; é difícil defender, só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é esta que vê, severina; mas se responder não pude à pergunta que fazia, ela, a vida, a respondeu com sua presença viva. E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; mesmo quando é uma explosão como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida severina.