Tenho sempre me esforçado em levar para os episódios do meu podcast a força que o storytelling tem na minha vida e na de quem o experimenta.
Quando digo isso, algumas pessoas -as mais sonhadoras – pensam que estou falando de poesia e de encantamento. Outras – mais objetivas para as coisas da vida – entendem que posso estar falando de persuasão e argumentação.
Como quer que seja, o storytelling pode ser sim tudo isso, mas acho que ainda não disse algo aqui para você:
A gente faz storytelling a partir de memórias; e uma memória é uma história escrita no presente. Não basta, portanto, como pensam alguns, colocar uma memória em cena, assim, sozinha, desamparada, avulsa e desarticulada; ainda que com a intenção de encantar, persuadir ou argumentar. É preciso mais. É preciso vestir a memória de requintes, de pompa, de docilidade. Garantir a ela solenidade absoluta. É por este motivo que você deve ter cautela ao usar uma memória na sua história, no seu storytelling (e talvez algumas pessoas devessem pensar duas vezes antes de contar uma história apenas para vender um produto).
Uma memória é uma história escrita no presente e devemos dar a ela toda a solenidade possível. Ela não cabe no papel ou em um filme; numa ligação telefônica, num presente, numa foto – nem caberia neste podcast. Porque quando penso nesta memória no presente, ela transborda para fora da foto, por assim dizer. Ela me vem como um holograma de sentidos.
O episódio de hoje é sobre uma memória que está se fazendo história; e já peço desculpas se ela for mais consistente para mim do que será para você.
A memória que escrevo aqui é a que vem de uma amiga (e quem tem ou já teve uma amiga, deve saber de que tipo de memórias estou falando). Hoje, a história dela está cruzando o oceano, voando para mil, cento e oitenta quilômetros daqui. Deixando uma saudade imensa que, confesso, não sei se gosto de sentir. Digo isso porque as minhas saudades diárias, aquelas que já estão em mim, ocuparam um espaço do tamanho que, ao que parece, tenho consigo suportar. E a vinda desta nova saudade é mais uma a ocupar este apertado coração.
Por ser, então, a memória, uma história escrita no presente, não me ocupo do storytelling além mar desta minha amiga; pois não tenho dúvidas de que ele será belíssimo.
Me ocupo, isso sim, das memórias que fazem uma história que vivo no presente e que transborda para todos os lados:
As memórias que lhes conto agora me falam de um tempo em que eu e ela, na escola, nos ocupávamos do menino diferente; e de como a gente se alegrava, se orgulhava, quando ele dava o melhor dele para nós… Dos projetos que fizemos e que
As memórias que constroem esta história também falam de como é bom ter amigos para adocicar os ouvidos; para ouvir conselhos e, com eles, melhorar a percepção das coisas… Tornar tudo mais suportável… Viável. De como é possível valorizar a própria vida, e ainda assim amar os filhos, perdoá-los, perdoar-se e amar-se.
Dentre as memórias desta história que lhes trago para o presente também estão as conversas nos jardins da biblioteca – e ainda fico surpresa ao lembrar do quanto de palavras a gente fazia caber no intervalo do nosso almoço; papos que me fizeram entender a vida e ter coragem para vivê-la do jeito que ela se apresentava…
A voz da memória que faz esta narrativa também me chega aos ouvidos:
“É preciso pensar na fartura, Helenice”. Ela dizia.
Sim, fartura de amor, de confiança, de saúde, de posses, de paz, de saberes e de respeito.
Um conselho desta amiga ficou gravado para mim. Se quiser, você pode ouvi-lo no Podcast Eu, storyteller: uma memória escrita no presente também para você.