Na semana passada eu escrevi um artigo sobre ‘não ter o que escrever’ – e este é o link para o texto no Blog: Não ter o que escrever (wordpress.com)
Essa é uma queixa frequente e vem de quem, por algum motivo, precisa ou quer escrever.
Por ironia, na mesma semana, conversando com um amigo, ele me disse exatamente o contrário:
Admiro quem é didático, porque minha dificuldade é falar o que quero em poucas palavras, já que meus pensamentos são sobre profundezas e complexidades.
Eu também sinto o mesmo, admito, mas penso que não basta ser didático. Tampouco, apenas me resta dizer o que quero, sem limites de palavras: escrever vai além de ser conciso ou prolixo, objetivo ou profundo. Extrapola o limite da técnica. Sobrepõe-se ao meu desejo de falar. A arte de escrever inclui troca; pressupõe que se trata de uma experiência humana, social e histórica. E é isso que torna a escrita tão complexa.
Não basta que eu diga:
Corte, reduza este parágrafo a 2 linhas!
Encontre um sinônimo! Procure uma palavra mais simples!
Tire essa repetição!
Para que isso seja feito, sem perder os ‘pensamentos’, é preciso que quem escreve desmonte sua artilharia, abandone palavras, estilos, semânticas, profundezas e complexidades: e apenas se imagine, cara a cara, tendo uma única e efêmera chance com o seu leitor. Quem sabe para salvá-lo.
Para quem cada palavra dita e falada é um caso de amor e paixão, vida e morte, é muito difícil abrir mão de um minúsculo termo que seja… Mas quando se pensa que esta frase pode ser a nossa única chance de tocar o outro, então, despojar-se das palavras deixa de ser um martírio, mas um propósito. Neste caso, as profundezas e complexidades ainda permanecerão na sua escrita.
Tente.
Seu texto me fez pensar nas “malditas” (não gosto dessa palavra) caixinhas de interação dos stories no Instagram. Aquelas tristes três linhas nos obrigam a tirar leite de pedra. Mas é um delicioso exercício na arte de dizer tudo com quase nada.