No dia seguinte à comemoração do Dia Mundial da Educação, logo de manhã cedinho numa rádio de São Paulo, ouço uma breve reportagem sobre os impactos da pandemia na aprendizagem dos estudantes.
São dados surpreendentes… Na verdade, são de arrepiar os cabelos! Mas preciso dizer uma coisa: há algo de muito errado ali.
Não que eu duvide de que a pandemia atrasou a aprendizagem das nossas crianças, adolescentes e jovens. Ao contrário; estou certa de que este vírus fez isto e fez ainda um mal maior… Eu sei, você sabe… Nós sabemos.
Mas o que eu acho interessante é a forma como as pessoas embasam suas argumentações. “Invertem a pirâmide”, como eu costumo dizer (ah, na Mentoria eu explico bem isto). Bem, a reportagem diz que a pandemia resultou em 11 anos de defasagem em matemática… 3 anos em Língua Portuguesa… Ao que parece, à medida em que vai se chegando no Ensino Médio, a defasagem vai diminuindo – mas ainda é grande (será que isto significa que, aos alunos crescerem, melhoram seus mecanismos de recuperação?).
Ora… Tudo bem que não sou autoridade em educação e minha experiência é apenas aquela do chão da escola (embora eu já contabilize nisto 30 anos!). Mas não posso concordar:
Primeiro, porque a defasagem já existia antes da pandemia.
Segundo, porque os processos de aprendizagem se dão bem longe de cronologias cruéis. Felizmente.
Terceiro, porque não acredito que serão as aulas de ‘reforço’ que suprirão esta e as defasagens anteriores e futuras. Aliás, é importante entender qual tipologia de ‘reforço’ estes indivíduos precisarão no momento pós COVID.
O que eu acho que está errado mesmo é que a pandemia escancarou uma necessidade negligenciada há tempos: a de revisar currículos e prioridades. E de olhar para o tempo.
O que cura o mundo – e as coisas ruins que acontecem nele – é o tempo.
Neste nosso caso não será diferente: vamos precisar recuperar esta defasagem afetiva, sensorial e emocional. E isto não acontecerá com currículos, aulas extras e de reforço. Precisamos todos é deste tempo não vivido.
Se amanhã voltássemos todos às escolas – como era antes – ainda assim nossa prioridade não seria o currículo.