Ouça em podcast: https://open.spotify.com/show/1V2bjS2E9wmYwKUG0uIv5V?si=mAEyoTtnTq-WuS-HLyHX0A&utm_source=whatsapp
No mais, fiquemos atentos à semântica:
Memórias podem ser relembradas. Apenas algumas podem ser comemoradas.
Verdades podem reparar pequenas mentiras. As grandes precisam ser desmascaradas como falácias.
Pois é então que hoje, uma quinta-feira, chegamos ao 1º de abril, data popularmente conhecida como o Dia da Mentira.
Muitas são as teorias sobre como surgiu o Dia da Mentira, porém a mais aceita é que assim ficou conhecido a partir de uma mudança no calendário utilizado na França do século XVI, em que a comemoração do Ano-Novo (que acontecia entre 25 de março e 1º de abril) passou a se dar em 1º de janeiro. O autor da mudança foi o rei francês Carlos IX, mas algumas pessoas da sociedade francesa, à época, não apreciaram a nova lei – o que foi suficiente para que os resistentes à mudança no calendário fossem alvos de zombaria e então chamadas de “os tolos de abril”. A partir daí, nem é preciso dizer o que aconteceu: a data se popularizou como o dia da mentira por todo mundo. Quem perderia esta piada?
É claro que tudo isto que contei aqui sobre a origem do dia da mentira pode não ser verdade, pois eu mesma não me aprofundei na busca de informações, mas não deixa de ser uma verdade aceitável – brincadeirinha! Pode pesquisar que você vai encontrar esta informação.
Entretanto, queria mesmo é aproveitar este dia da mentira para refletir um pouco sobre a sua matéria-prima, claro, a mentira (e talvez neste ponto alguns que me leem já estejam pensando que bom mesmo seria que apenas o 1º de abril fosse o dia reservado a ela). Pensando nisto, nem vou me preocupar em relembrar por aqui das tantas doces mentiras que eu e você ouvimos quando crianças, muito menos daquelas que ouvimos já bem crescidinhos… A lista seria imensa e, em alguns casos, injusta e vergonhosa… Da mesma forma, não quero me aprofundar no caráter da mentira – ou de quem mente; muito menos me preocupar em analisar o valor estratégico da mentira que, em muitos casos, pode servir para evitar punição ou encobrir algo. E prometo: não vou falar da tão bem intencionada mentira do bem – sempre útil para evitar um mal maior.
Não. Não é disso que gostaria de falar. É evidente que vou aproveitar esta data para colocar em foco o status de refinamento da matéria-prima deste dia, mas, de toda maneira, uma mentira é só uma mentira, uma informação falsa; ainda que dada por alguém cruel e mal intencionado. Por isto, quero mesmo é falar da prima rica da mentira – a falácia.
Falácia vem de um verbo latino que significa enganar; ou mais: é um raciocínio errado com aparência de verdadeiro; é um argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho, mas que se empenha brutalmente para provar algo falso. A falácia é o rebuscamento da mentira, e, enraizada que está nos argumentos, convence docemente as pessoas, apela para a persuasão sem fim e sem escrúpulos; explora a ingenuidade.
Muito desta tragédia, desta suscetibilidade que temos em relação às falácias se deve ao fato de que, embora sejamos todos narradores por excelência, nem todos percebem ou conhecem as traquinagens dos discursos humanos. Chega até ser bonito isto de não perceber ou conhecer algo, mas o problema é que sempre tem quem saiba – e se aproveita disto.
Em tempo: recomendo fortemente a leitura do artigo “6 falácias mais utilizadas atualmente”, publicado em 1º de setembro de 2021 por Alfredo Carneiro, graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília: 6 falácias mais utilizadas atualmente – netmundi.org
Conhecer as falácias modernas nos dará uma chance de viver neste mundo?
NOTA TÉCNICA
O labvozes é um espaço virtual para mentorias individuais, destinadas a quem quer conhecer as traquinagens argumentativas – não para escrever, falar mentiras e falácias – ao contrário; para aprofundar a escrita empática, sustentar a ética na argumentação, persuadir com lealdade e ser efetivamente humano.