Ensaio sobre o dia da mulher

Foto por Pixabay em Pexels.com

8 de março se comemorou o Dia Internacional da Mulher. Mais uma vez.

A gente tem esta mania de romantizar datas. Ora as tornamos atraentes para estimular o consumo, ora para alimentar os enganos; tantas outras vezes por causa desta nossa preguiça consentida de pensar e agir (apenas para citar alguns exemplos).

De toda forma, eu mesma aprendi, e não faz muito tempo, que há dias para se lembrar; e talvez este seja um deles. Junto com esta lição também aprendi que é preciso se lembrar para não esquecer.

Eu fico tentando entender aqueles que comemoram a data; e imagino que talvez seja tudo uma questão de ponto de vista. Mas ainda assim não acho que este seja um dia para se comemorar. Nunca foi e nunca será. Comemoram-se os aniversários, as bodas, as vitórias… Para todo o resto lembramos, recordamos, perpetuamos, guardamos na memória.

E como creio que o 8 de março é um dia para não esquecer, lembro aqui de uma mulher – dentre tantas, pois quem sou eu para esquecer as outras: Carolina Maria de Jesus, nascida em Sacramento, em 14 de março de 1914. Escritora, compositora e poetisa brasileira. Em seu livro, Quarto de Despejo, ela escreve:

… Fui comprar carne, pão e sabão. Parei na banca de jornaes. Li que uma senhora e três filho havia suicidado por encontrar dificuldade de viver. A mulher que suicidou-se não tinha alma de favelado, que quando tem fome recorre ao lixo, cata verduras nas feiras, pedem esmolas e assim vai vivendo… A pior coisa para uma mãe é ouvir esta sinfonia: mamãe eu quero pão! Mamãe, eu estou com fome!

Qualquer pessoa sabe que a narrativa é um mecanismo para aprender coisas; prova disto é que, ainda no berço, ouvimos e narramos histórias. Mas, longe da intenção de poetizar as narrativas, é preciso que se entenda que tudo depende de onde elas estão e de quem as diz. Quantas Carolinas há ainda agora neste Brasil, falando e falando? São narrativas de lugar nenhum e de todo o lugar, dizendo o que todo mundo sabe, mas não se dispõe a ouvir.

E pensar que ainda agora há tantas carolinas por aí, tomando o trem, se amontoando no ônibus, driblando o vírus, a fome, a tristeza e a indiferença.

É. Talvez faça sentido se lembrar, desde que seja para não esquecer.

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