Imagem: Memorial Minas Vale (2019)
Nunca tinha ido assistir à leitura dramática de um texto teatral. Ontem foi a minha primeira vez.
A coisa toda aconteceu ali, naquela escassez: em cena, duas cadeiras, dois personagens e o diretor cênico – que, logo de início, apresentou os personagens.
O diretor foi para mim um espanto – e olha que ele nem é personagem, nem é narrador. Ele é como se fosse um deus… Ele é cenário, iluminação, figurino e sonoplastia – e sopra a história numa emoção sem fim… Sabe todas as falas e não as sussurra aos personagens, pois que sua voz narra a cena, desenha a cor, o vento e a intenção.
No centro, uma história de amor e desilusão. As músicas de Bob Dylan, o toca-fitas, o Karman Guia, os cavalos que não foram feitos para o asfalto. Sexo. Amor. Deixa pairar uma dúvida sobre traição e aborto. Referências mais que diretas, e que sinalizam que Mona e Theo vivem os anos 70.
Fim do primeiro e único ato. A plateia aplaude de pé e está cheia de gente famosa de quem nem sei o nome.
De tudo, para mim, ficaram quatro coisas na noite gelada:
Primeiro: O grito de Theo – na dor imensa de sua desilusão.
Segundo: A frase repetida três vezes pelo autor da peça – que fez parecer, afinal, que temos algo em comum. Ele disse: “quando escrevo, é como se meus personagens estivessem falando em voz alta. E eu choro com eles. ”
Terceiro: O discurso emocionado de não sei quem era – mas que parecia importante e todos pareciam respeitá-lo muito: “a educação precisa passar pela oratória! ”
Quarto: as coisas que deus disse.
Não me meti na conversa nem de uns nem de outros. Ontem foi a minha primeira vez. Como poderia?
Mas posso dizer: quase tudo o que disseram ontem eu também já sabia.
Dramática leitura.