Mensagem aos pais

Só hoje me passou pela cabeça a possibilidade de escrever sobre isso, talvez porque o dia de ontem tenha sido difícil para todos – e, convenhamos, os dias têm sido difíceis até mesmo para quem tem 10, 11 ou 12 anos. Apesar disso, foi um dia como todos os outros costumam ser; compromissos, horários, tropeços, indignações e alguns avanços…

Nada de novo.

Não tirei foto. Não filmei. Não gravei. Apenas tive o privilégio de viver a experiência de sentir uma emoção: a que vem do amor sublime.

Foi assim:

Há muito os alunos estão animados com um projeto que os convida a escrever em todas as minhas aulas – no nosso caso, duas vezes na semana… A ideia é escrever textos curtinhos, que possam ser lidos em voz alta por todos em, no máximo, meia horinha… Ah, já ri muito com eles, mas ontem foi bem diferente…

A proposta era escrever sobre “um sonho recorrente” – e depois de uma breve explicação sobre a formação da palavra “recorrente”, eles começaram os trabalhos…

Tem uma coisa muito legal que acontece ali, e que eu quero dizer: foi preciso lhes pedir apenas uma única vez que, assim que finalizassem a escrita dos textos, formassem um círculo no fundo da classe para lerem, baixinho, suas redações… Uma única vez lhes foi dito, mas eis que isso acontece todas as vezes…

Estávamos nessa quando reparei, por fim, que não havia mais nenhum aluno sentado nas cadeiras… Todos estavam no círculo; cochichando, trocando os caderninhos… Engraçado isso, só você vendo a cena… Então, convidei-os a retornar para seus lugares e iniciarmos a leitura para toda a classe.

Também é preciso que você saiba que essa não é uma etapa tranquila… Determinar quem lê antes, quem lê depois é um momento invariavelmente tenso! Os ânimos se agitam, se exaltam, se ofendem… Mas até isso é um pouco divertido para mim; acredite… Vê-los se “digladiando” por uma posição nessa “fila” de leitura é engraçado, principalmente porque, no final, a gente sabe que todos vão ler… Nem preciso dizer que esse é um excelente momento de aprendizados – se quiserem, podemos falar sobre isso um dia. Mas o que acontece ali vai muito além disso. É algo humano e quente.

Ontem foi assim, algo bem indescritível mesmo, pois teve de tudo: sustos, risadas e surpresas. E, de novo, sobre tudo isso também posso falar com vocês mais detalhadamente outro dia… Mas o que eu não gostaria de deixar passar foram os choros e os abraços. Não posso deixar de compartilhar com vocês a oportunidade que tivemos de sentir a nossa humanidade quente e afetuosa.

Dentre tantas coisas, tivemos ontem a oportunidade de ouvir sobre a saudade de alguns. Foi grande a emoção de poder sentir coletivamente a saudade do outro, chorar por ela, deixarmos nos abraçar por ela. Foi lindo ver as nossas saudades serem diluídas também ali, deixando a gente incapaz de saber onde começava a saudade de um e onde terminava a do outro… O que teria sido de mim no dia de ontem, se não tivesse respirado aquele amor?

Formamos uma leve e consistente névoa de amor ali, no meio à dureza das cadeiras, janelas, livros e cadernos.

Por isso tudo achei que deveria compartilhar isso com vocês.

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