Adoro chocolate. Nada de bolos ou tortas doces. Gosto principalmente de bombons. Chego ser meio fanática, eu acho. Do tipo que sai de casa só para comprar chocolate.
Lembro de uma vez em que fui ao endocrinologista depois de uma pequena alteração na glicemia. Já sabia o que ele ia me dizer: corte o açúcar, fique atenta às frutas e sucos que pode comer, elimine os carboidratos… Na sala de espera, na minha cabeça, elaborava uma frase para ser dita ao médico: “Sim, sim, doutor… Só não me peça para cortar o chocolate…”
O doutor demorava a chamar. O consultório, lotado: a mulher de cara redonda e vermelha, o velho enrugado e magrelo, a mocinha de sapato bico fino. Vermelho.
Me deu sede. Perguntei à recepcionista onde era o bebedouro:
“À direita” – ela respondeu. “Ao lado do alarme de incêndio”.
Peguei a bolsa e fui. Virei à direita, como ela disse. No fundo do corredor, na parede amarela, o alarme de incêndio. Um pouco antes, o bebedouro. Me aproximei e ia já pegando o copo, quando desvio um pouco o olhar e percebo que há algo diferente com o alarme de incêndio.
Me aproximei. Apertei os olhos e li a legenda no vidrinho do alarme:
“Em caso de incêndio, quebre o vidro”.
Frase previsível; mas nem tanto.
Por trás do vidro, no lugar do botão de alarme, dois bombons – para ser mais exata, dois sonhos-de-valsa.
Entendi tudo. Até me esqueci da água e da sede. Voltei arrastada para o meu assento na sala de espera. Acho que demorei bastante nisso, pois quando cheguei não havia nem sinal da cara redonda da mulher, nem das rugas do velhinho. Muito menos do bico fino da mocinha.
A recepcionista tirou “não sei de onde” um sorriso maroto e me disse:
“Já ia atrás da senhora… Achei que tinha se perdido no corredor…”
Achei sarcástico da parte dela, e nem respondi: entrei no consultório de cabeça baixa, ocupada demais com meus pensamentos, tentando engolir ali mesmo a frase que tinha planejado dizer ao doutor.
Muito bom!! Uma situação comum, como a sala de espera do médico, torna-se um mix de aventura com reflexões sobre valores.