Não tenho muito o que falar sobre tecnologia, a não ser que sempre me adaptei a ela com muita facilidade.
Não posso mentir que sou do tempo do acetato colorido na tela da TV. Lembro-me bem de quando meu pai fixou o artefato diante do pesado aparelho que ocupava destaque na sala de visitas; e de quanto a minha mãe insistiu para que eu e a minha irmã sentássemos longe da tela, pois tanta cor poderia nos ‘estragar a vista’. É certo que não fomos os primeiros a ter uma TV com transmissão colorida, mas a criatividade nos salvou até que isso pudesse se realizar.
Anos e anos mais tarde, já com filho adolescente, chegou o primeiro computador na minha casa: uma CPU imensa, uma internet discada, uma porção de fios que, toda vez, a gente tentava esconder das visitas. Era tempo do disquete, do ICQ, do Orkut, da fita cassete, do fax; da multa na locadora e do DVD que, graças ao avanço da tecnologia, resgatou as fitas mofadas lá de casa, e preservou intactas muitas das lembranças da família.
Para falar bem a sério, a tecnologia nunca me assustou. Ao contrário. Sempre a celebrei, e ainda a celebro: professora, durante a pandemia, extrapolei o quanto pude as tecnologias: aprendi a gravar e editar áudios e vídeos, a falar no rádio, a comprar por aplicativos, a escrever em blog. Entrevistar pessoas, fazer podcasts, editar fotos, usar o Instagram. Aprendi tanto que ensinei meus alunos a argumentar com eloquência, elevei a escrita (tão ancestral) ao status de roteiro audiovisual. Em minhas aulas, inovei com loglines e storyboards. Ensinei a falar em voz alta. Aprendi a desenhar meus projetos e a fazer mapas com folhas de papel… Sem remorso ou vergonha, posso dizer que vivi o acetato, e também o Post-it.
Mas preciso confessar uma coisa: não há quem resista à “boa e velha tecnologia’ – tão rudimentar e primitiva: a história. As pessoas amam narrar, rir e chorar por causa das histórias.
Sinceramente, creio que a narrativa é uma das maiores ‘tecnologias’ inventadas pelo homem. Acredito mesmo que a gente vai se superar nessa tecnologia, pois que ela poderá até nos salvar de nós mesmos, do nosso egoísmo e da nossa intolerância.