Se eu tinha alguma dúvida sobre existirem dias que merecem ser guardados na memória, ontem foi um dia desses – e, por isso, faço aqui o registro; para guardá-lo em detalhes.
Como de costume acordei aquele dia da mesma maneira como o dormi: pensando nos filhos e quando me seria possível reuni-los novamente pertinho de mim. Esta pandemia fez a gente viver esperanças de tirar o fôlego. É bem assim que tem sido.
Mas foi ontem, só no final do dia, que algo me passou pela cabeça. Prova disso é que, bem tarde da noite, abri o computador para escrever esta frase:
Se eu tinha alguma dúvida sobre existirem dias assim…
O adiantado da hora e o repentino cansaço não me deixaram prosseguir, mas todas as ideias estavam ali, a linha mestra perfeita para o texto que eu não poderia deixar de desenrolar no dia seguinte.
Longe de mim a intenção de reduzir este momento a uma lição de storytelling; mas, sem dúvida, ele é: o processo criativo de um texto contempla, antes de tudo, o pensamento. Neste meu caso, a história que me veio à mente na noite anterior chegou em forma de uma frase, mas antes dela, colou-se uma imagem, uma inspiração, uma emoção que atingiu em cheio o meu coração: eu terminava o dia feliz, com uma sensação de ter encarado as horas daquele dia com intensidade e coragem.
Ora se isto não é viver? Pois é isto mesmo. Eu terminava o dia com o sentimento de tê-lo vivido.
Ainda sem largar a ideia de que esta nossa conversa de agora poderia ser uma lição de storytelling, devo resumir para você que, ontem à noite, pouco antes de colocar a cabeça no travesseiro, vivi uma etapa importante do processo criativo para criar este texto, quando pude determinar com clareza a logline do meu texto.
Para quem não sabe, este termo, logline, é empregado principalmente nas narrativas audiovisuais, traduzido como ‘linha de registro’. É a ideia minimizada de uma história (que pode resumir ao máximo a ideia de um filme ou livro. A logline é apenas o gatilho emocional da história.
As plataformas de streaming usam a logline na sua vitrine de ofertas de filmes. Só para deixar isso claro, vai aqui um exemplo de logline:
Infeliz aristocrata noiva se apaixona por pintor boêmio de classe inferior dentro de um navio de luxo pouco antes do seu naufrágio.
Longe de mim tirar a poesia do filme, mas sim! Esta é a logline do Titanic.
E foi só isso que se passou comigo: tive o insight da história, e tempo para desenhar todo o enredo na minha cabeça.
Não pude escrever o texto, infelizmente, pois outros compromissos vieram. Pena. A sensação é de lançar a linha no rio, sentir o peixe mordiscar, chegar a ver uma sombra robusta estremecer a água, mas render-se ao frio, ao calor ou ao sono – e decidir voltar à terra.
De toda a forma, este foi o meu insight, o fio que pretendia puxar no dia seguinte; ou quando ele me retornar intenso no coração:
Se eu tinha alguma dúvida sobre existirem dias assim, esta se dissipou hoje: a vida é feita de pequenos prazeres, como o de refazer um caminho interrompido há quase dois anos. Como resumir esta cena senão em um sorriso.
Referência: http://www.massarani.com.br/rot_logline.html#:~:text=T%C3%ADtulo%3A%20Titanic%20Logline%3A%20Infeliz%20aristocrata,ser%20acompanhada%20de%20um%20t%C3%ADtulo.