Ontem vivi um dia especial; de verdade. Não que outros não o tenham sido antes deste, mas é que o dia a dia faz a gente seguir a vida de um jeito muito distraído, desatento do olhar, dos ouvidos, das coisas do coração. Na real, com o tempo, a gente se incapacita das pequenezas que fazem bem, por escolha e urgência, e porque, é claro, viver é coisa acelerada.
Acho até que ontem era para ser um destes dias de sentidos desatentos, velozes e perdidos, porque foi só no final da tarde que minha alma se acendeu. Aconteceu assim:
Durante uma reunião de trabalho – que olhando agora me faz pensar ter sido só um pretexto para o que veio no final dela – assistimos a um TedTalks. Nele, Dewitt Jones, um fotógrafo veterano da National Geographic inicia uma palestra que parece ser de autoajuda. Sua linha mestra é a que dá título ao episódio.
“Celebre o que está certo no mundo”.
A palestra tem pouco mais de 18 minutos (o vídeo está logo abaixo) e o tipo de história que é contada ali não parece que vai surpreender: o palestrante narra sua história como fotógrafo da revista, suas experiências de vida, alguns dos erros e insights que teve no exercício da profissão; sempre alternando sua história com muitas fotos autorais; ressaltando o quanto é importante a gente estar atento aos sinais do mundo.
Não parece difícil concordar com ele na premissa de que quando a gente se acostuma a celebrar as belezas do mundo, da natureza, ele não nos decepciona.
Entretanto, a história não para por aí; aquela não era, como ele mesmo se ocupava em dizer, uma história de Pollyanna (para quem não sabe, Pollyanna, é a personagem que sempre faz o “jogo de contente”, é uma otimista sob qualquer suspeita. Ela é a protagonista do livro de Eleanor H. Porter publicado em 1913).
Que bom que ele disse isso, até porque, em sendo este o tom da palestra até ali, já não me saia da cabeça uma frase irrepreensível de Ariano Suassuna: “O otimista é um tolo, o pessimista é um chato. O bom mesmo é ser um realista esperançoso”.
Felizmente, não era só isso – e não vou prosseguir muito mais neste texto para não antecipar os fatos; para não dar spoiler da palestra.
O fato é que a história continua e surpreende até os que possam ter se esquecido de que é preciso aquecer o coração com o invisível e celebrar sim o que está certo no mundo.
Assistam. Mas, acima de tudo, entendam:
Diferentemente do que se lê em muitos e muitos livros de storytelling, de que há 5 tipos diferentes de histórias (que encantam, explicam, ensinam, motivam e movem), e que você precisa aprendê-los para engajar seus clientes e leitores; diferentemente do que se diz por aí, o storytelling não é uma ferramenta, uma estratégia que você precisa aprender a usar se quiser ter sucesso, por exemplo, na venda de um produto ou de uma ideia. Em resumo, o storytelling não pode ser resumido a uma ferramenta de persuasão, negociação e venda.
O storytelling é mais do que isso: é uma tecnologia social que, originalmente pertence às narrativas de vida, de memória, de experiência. Por este motivo, o storytelling não é algo que está fora da gente. Ele faz parte do nosso DNA. Somos narradores, desde o choro do nascimento até o suspiro da morte ( e essa citação eu tirei do livro da Denise Schittine). Por este motivo, uma mesma história (aquela que não nos sai da cabeça), pode congregar todos os 5 tipos de história. Prova disso é que, se eu não tivesse insistido ao chegar ao terceiro ato dessa palestra, talvez o dia de ontem não tivesse sido tão especial.
Grande at
enção deve ser dada à organização das nossas ideias e, sobretudo, ao que pretendemos com elas. As fórmulas nem sempre ajudam. Neste nosso caso, o do storytelling, vale mais entender que esta tecnologia está disponível para todos nós – e que é ancestral. Também é bom não esquecer que histórias podem servir de exemplo, mesmo que não contem apenas os nossos sucessos. E por quê?
Porque há perigos em contar histórias únicas.
Porque, afinal, nossa Pollyanna merece viver histórias mais completas; sem ser tola nem chata.