Sobre as boas perguntas

Foto por Alex Green em Pexels.com

Pensei que este texto poderia ser sobre a importância de fazer perguntas.

Não me veio de graça a ideia, pois que ela surgiu exatamente pela escassez de boas perguntas. Penso até que essa habilidade de perguntar anda meio fraca nas pessoas – e nisso eu me incluo – pois que, quase sempre, estou afiadíssima, pronta para dar muitas respostas: provar, constatar, reforçar, opinar, ajuizar, julgar, exemplificar… Quanto às perguntas…

Acredito que a falta de boas perguntas seja também um efeito desse longo período de isolamento social e de extrema conectividade que vivemos. Só que, da mesma forma, quem está do outro lado (respondendo às perguntas) permanece distante do olho no olho, da impetuosidade, do calor e do cheiro; da ousadia, da coragem e até da sinceridade das pessoas e, por consequência, acha por bem escolher as palavras para dar em resposta, materializar e intuir ao máximo a pessoa por detrás da pergunta, sem se dar conta de que afasta o hálito do emissor da mensagem, tirando dele o coração, o pulmão e o cérebro.

Se do lado de cá – de quem dá as respostas – é assim; não é diferente do lado de lá – de quem faz as perguntas ( e talvez por isso não sejam tão boas) . Estas costumam ser convenientes e apropriadas; pior, carregadas de uma intencionalidade que desconserta e tripudia sem mostrar; desconsidera quem é o outro, de onde veio e para onde vai. Pouco importa o que se responda. O importante é que se responda. Perguntas e respostas vivem a força de um pacto, de um jogo: você finge que me pergunta e eu finjo que respondo.

Vamos a um exemplo. Imagine que sou uma escritora. E pergunto a você, dando-lhe alternativas para facilitar o diálogo:

Você considera a escrita como algo importante em sua vida?

( ) SIM

( ) NÃO

( ) JÁ FOI IMPORTANTE, AGORA NÃO É MAIS

Perguntas assim não são boas e há motivos para pensar assim: ao que parece, pouco importa a resposta dada. Na prática, de nada serve conhecer quem a está dando. De nada importa o que o outro pensa a respeito – e, por isso, essa não é uma boa pergunta. Ela foi feita apenas e somente para detectar o padrão, as diretrizes do pacto que está apenas começando.

As perguntas não são boas e, se assim o são, de que valem mesmo as respostas? Nem vou continuar por aqui (até porque essa é uma pergunta e já nem sei se ela é boa). Só sei que escrever é fundamentalmente responder às perguntas que estão dentro da gente, numa tentativa desesperada de encontrar respostas. Ainda assim, um pacto. Um pacto que se dá dentro nós. Imaginar os pactos que fiz e ainda farei ao longo da vida me inquieta; me faz pensar na urgência que há por boas perguntas e boas respostas.

De qualquer maneira, deixo aqui uma sugestão de leitura (ler sempre nos preenche de novidades e refina a nossa capacidade de sagrar melhores pactos – fazer boas perguntas ou dar boas respostas. Trata-se de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592): A arte de Conversar. Vale muito a leitura.

Termino este texto com uma frase retirada do ensaio escrito pelo ensaísta por volta de 1571.

Gosto de discutir e conversar, mas é com pouca gente e para meu proveito. Pois servir de espetáculo aos grandes e fazer exibição de espírito, são coisas que não considero recomendáveis em um homem de bem (Montaigne).

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