Eu adoro uma história. E me refiro tanto a contá-las quanto a ouvi-las. Uso-as o tempo todo, quando estou jogando conversa fora ou debatendo algo importante, explicando, aprendendo, dando uma aula.
Talvez também você já faça o mesmo, embora ainda não se dê conta. Porque isso também é algo que a gente aprende com as histórias: a enxergá-las em todo lugar. Vira quase que uma mania, mas é mesmo uma forma de raciocinar, de ver o mundo. Digo isso com conhecimento de causa, porque foi essa minha mania de história que transformou, ainda que eu não percebesse, a minha trajetória profissional. Engraçado isso, pois essa transformação foi lenta, tão gradual que eu nem senti:
Comecei querendo ser escritora – e isso bem lá atrás no comecinho da minha história de vida. Tive o sonho de ser jornalista e cheguei a me aventurar um pouco. Por conveniência, fui ser professora; acho que para facilitar as coisas (ah, olha eu já querendo dar uma versão para essa minha história).
Só sei que chegou um momento em que eu não via mais uma professora em mim; ao menos não da forma que eu pensava que seriam as professoras. Chimamanda Adichie falou uma vez sobre este perigo de contar para si mesma uma única história. Ela fez até um TED TALKS sobre isso, que se chama O perigo da história única. (Este é o link: (261) TED – O perigo de uma história única – Chimamanda Adichie – Dublado em português – YouTube).
Descobri, felizmente e a tempo, que é perigoso ter uma só forma de se ver, de acreditar, de entender as pessoas e o mundo. A gente pensa que pode ser juiz o tempo todo, mas isso não é verdade. Aconteceu comigo, deve acontecer com você.
Quando eu olho para as partes da minha história com certa generosidade e brandura, eu percebo que ela é uma versão – apenas uma dentre as tantas que eu poderia ter tido. Vou dar um exemplo para você:
Tenho um caso com os substantivos. Lembra deles das aulas de Português? Não? Bem, para mim eles não passaram despercebidos. Nem poderiam, pois, se ainda não lhe disse, sou professora de Português.
Adoro contar essa história que só começou quando eu tinha quase 30 anos. Não que outras lembranças dos substantivos não tenham surgido. Mas essa história é especial, pois que foi ganhando significado com o passar do tempo. Guardadas as proporções, é o que eu chamo de uma história de superação. Pois é disso mesmo que se trata essa história: de como eu me superei, redescobri os substantivos quase duas décadas depois da primeira experiência (não, não é para rir, a coisa foi séria).
Só pra você ter uma ideia, nos primórdios da minha carreira como professora, eu abusei deles, dos substantivos. Em especial dos abstratos, que eu dava em listas. Ou, como se dizia antigamente, daqueles substantivos que representavam coisas que não se podiam pegar… Tipo fada, monstro… Deus… Amor… Lembra?
Minhas listas eram imensas. Pobres dos meus alunos. Lembro com certo remorso, inclusive, que não entendia porque alguns dos amigos do meu filho, ex-alunos, jamais aceitavam o convite para entrar na minha casa…. É, a coisa era séria.
Essa minha relação com os substantivos abstratos é séria, mas acho que ela tem um final feliz (quando quiser posso lhe contar os detalhes). E, como resultado, pude escrever uma versão diferente para a minha vida profissional.
Os teóricos do storytelling são unânimes em afirmar que há 5 tipos de histórias:
- As que encantam
- As que educam
- As que simplificam
- As que motivam
- As que criam movimentos
Fico tentada a pensar em que tipo de história é essa que conto de maneira tão recorrente aos meus alunos… Qual o impacto que essa história dos substantivos tem neles?
Não sei, mas acho que do jeito que eu a conto, ela faz de tudo um pouco.