(Não) ter o que escrever

Foto por Luis Dalvan em Pexels.com

Na semana passada eu escrevi um artigo sobre ‘não ter o que escrever’ – e este é o link para o texto no Blog: Não ter o que escrever (wordpress.com)

Essa é uma queixa frequente e vem de quem, por algum motivo, precisa ou quer escrever.

Por ironia, na mesma semana, conversando com um amigo, ele me disse exatamente o contrário:

Admiro quem é didático, porque minha dificuldade é falar o que quero em poucas palavras, já que meus pensamentos são sobre profundezas e complexidades.

Eu também sinto o mesmo, admito, mas penso que não basta ser didático. Tampouco, apenas me resta dizer o que quero, sem limites de palavras: escrever vai além de ser conciso ou prolixo, objetivo ou profundo. Extrapola o limite da técnica. Sobrepõe-se ao meu desejo de falar. A arte de escrever inclui troca; pressupõe que se trata de uma experiência humana, social e histórica. E é isso que torna a escrita tão complexa.

Não basta que eu diga:

Corte, reduza este parágrafo a 2 linhas!

Encontre um sinônimo! Procure uma palavra mais simples!

Tire essa repetição!

Para que isso seja feito, sem perder os ‘pensamentos’, é preciso que quem escreve desmonte sua artilharia, abandone palavras, estilos, semânticas, profundezas e complexidades: e apenas se imagine, cara a cara, tendo uma única e efêmera chance com o seu leitor. Quem sabe para salvá-lo.

Para quem cada palavra dita e falada é um caso de amor e paixão, vida e morte, é muito difícil abrir mão de um minúsculo termo que seja… Mas quando se pensa que esta frase pode ser a nossa única chance de tocar o outro, então, despojar-se das palavras deixa de ser um martírio, mas um propósito. Neste caso, as profundezas e complexidades ainda permanecerão na sua escrita.

Tente.

One Reply to “(Não) ter o que escrever”

  1. Seu texto me fez pensar nas “malditas” (não gosto dessa palavra) caixinhas de interação dos stories no Instagram. Aquelas tristes três linhas nos obrigam a tirar leite de pedra. Mas é um delicioso exercício na arte de dizer tudo com quase nada.

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